"Sessenta anos, sessenta e cinco...
Não importa, você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais
depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem
as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora você,
pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita. Todavia, também
obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia
da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige
essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu
sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança.
O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas
crianças? Naqueles adultos com problemas que hoje são os filhos, que têm sogro
e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo
nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles
que você recorda. E então, um belo dia, alguém lhe põe nos braços um menino.
Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro,
aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou
penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é
um menino seu que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe
reconhecem o seu direito de o amar com extravagância"... Rachel de Queiróz
... e diga-se com todas as letras você
o faz brilhantemente, você o ama extravagantemente... e pode acreditar, também, que todos os prazeres da vida
não estarão acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, ou mesmo
andar de Kombi numa manhã de sol...
Taca-lhe pau Macedo !!!
ResponderExcluirFicou demais essa homenagem a esse grande avô !